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2.11 – A atuação de D. João Gerardi


Um personagem de destaque nesse momento da história da Guatemala é D. João Gerardi, que desempenhou vários trabalhos pastorais como pároco em diferentes igrejas rurais e urbanas, algumas delas com realidades difíceis pela pobreza de vida manifestada nos rostos dos indígenas e camponeses.

Foram 21 anos como pároco, anunciando o Reino de Deus, pouco a pouco foi acompanhando o povo e deixando-se acompanhar. Algumas pessoas que o conheceram de perto comentam que ele tinha uma grande capacidade para se adaptar a qualquer situação: chegava a pé, em mula, a cavalo ou em jipe às aldeias, dormia freqüentemente no chão, coberto com pinheiro, gostava de ler muito (...), ele não falava de si mesmo, mas adorava conviver com as pessoas.

Com o apoio dos Estados Unidos. Em 1970, o candidato de direita, o coronel Carlos M. Arana venceu as eleições presidenciais. "A CIA, agência de inteligência norte-americana, o considerava o oficial militar mais extremista e inflexível do hemisfério". Seu primeiro objetivo foi potencializar e respaldar por completo a Campanha de Segurança Nacional sob a pressão do sistema militar, deflagrada no governo de Julio César Méndez Montenegro (1966-1970), do Partido Revolucionário, grupo político centrista, que iniciara de maneira drástica a campanha anticomunista.

Qualificava-se de "comunistas" todos os movimentos ou grupos organizados e os da guerrilha. A campanha levava medo à sociedade, insegurança cidadã, ameaças e provocava o desaparecimento e morte de dirigentes políticos, intelectuais, de camponeses e de indígenas.

Arana consolidou o Estado-Maior Militar, transferindo ao Exército todas as funções que as instâncias civis desempenhavam normalmente. Esta decisão converteu a Guatemala em um Estado autoritário e servidor exclusivamente da classe militar, senhores burgueses e latifundiários de prestigio e domínio.

Nesses tempos, a Igreja Católica realizou a Conferência Episcopal de Guatemala (CEG), que impulsionou um plano pastoral nacional de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Mais o projeto não logrou os resultados esperados, pois os próprios bispos manifestavam distintas eclesiologias; uns extremamente conservadores e outros, bastante liberais.

A afirmação teológica cristã sustenta que todo ser humano é criação de Deus. A dignidade humana guarda seu fundamento na própria sabedoria de Deus, que cria as pessoas dignidades particular e sobrenatural. "Façamos o ser humano à nossa imagem e nossa semelhança (...). Viu Deus quanto tinha feito, e que tudo estava muito bom" (Gn.1,26.31). Portanto, um elemento-chave da dignidade humana é sua própria libertação e realização integral, no que implica conversão das estruturas sociais que possibilitem a instauração do Reino de paz, justiça e bem comum.

As exortações sobre a dignidade humana e libertação da pessoa, assim como dos povos, especificamente os indígenas, eram muito distintas às dirigidas pelos líderes do Estado Militar daquela época, dos anos 1970, que se colocaram como grupo superior e identificaram os indígenas maias como grupos inferiores e afins aos movimentos da guerrilha comunista, apoiando-se em juízos racistas91. Discriminação ideológica que contradizia todo princípio humano civilizado e cristão, que trouxe como conseqüência a desonra dos povos, a total falta de respeito a sua dignidade, a exclusão, violação e genocídio dos povos indígenas.

Nessa região, a liderança de D. Gerardi foi de grande proveito para a Igreja Católica Apostólica Romana que passou a ter um rosto indígena e para os indígenas. Agia assim, embora vivesse em situações de incompreensão e sem respaldo da Conferência Episcopal, por alguns bispos ultraconservadores, e, no pior dos casos, alinhados ao sistema repressivo. É o caso de D. Eduardo Álvares Ramírez C.M. bispo castrense, de 1968 até 1987, que rebatia qualquer postura tomada por D. Romero e de quem lhe apoiasse em rechaçar as decisões do Estado naqueles tempos.

Aí, então, D. Romero chegou a receber sucessivas comunicações pondo em xeque a sua vida. De modo brutal, a oligarquia cumpriu suas ameaças em combinação com o alto comando militar. No dia 24 de março de 1980, ordenaram ao ex-oficial Roberto D’Aubuisson que assassinasse D. Romero. Foi morto enquanto celebrava a missa no Hospital Divina Providência. Por seu modo de proceder, D. Gerardi será um pioneiro na atualização e apropriação do acompanhamento aos povos indígenas.

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